terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ave Griselda cheia de graça!

Aguinaldo Silva muito prometeu antes da estreia de Fina Estampa. Algumas promessas ele cumpriu, outras ainda não - mas a novela mal começou. O autor prometeu uma trama com "pegada popular" e não estava brincando. Fina Estampa foi feita para agradar em cheio ao "grande público", em toda extensão que isso possa representar: fotografia, trilha sonora, locações, caracterizações e tipos humanos. Para isso, o autor mexe em botões que ele sabe que funcionam, que já conhece muito bem. São fórmulas já experimentadas e atestadas em outras novelas, por outros autores e pelo próprio.


Em Fina Estampa, Aguinaldo se vale de um elemento muito caro para o brasileiro, ou para o latino em geral: a figura da mãe. Nada mexe mais fundo no telespectador do que a imagem materna sendo maculada. Principalmente se essa mãe for carregada com cores fortes e exageradas e for interpretada por uma atriz do talento e carisma de Lília Cabral. Para uma novela pegar, o público precisa se identificar com os personagens, é preciso haver a torcida. Para isto, o autor criou Griselda, a caricatura da mãe batalhadora, que abriu mão da vaidade e da vida fácil em prol dos filhos. E para torcer por essa mãe, o confronto com o filho ingrato e "mau caráter", que não apenas sente vergonha dela, como também a repudia. Bingo! Griselda já é adorada pelo público.

Toda mãe sofredora tem o filho ingrato que merece, caso contrário, não existe o conflito, o sofrimento. E quanto mais caricata é a mãe sofredora, mais caricato é o filho ingrato. Esta é uma fórmula que já deu certo em outras novelas. A atual Morde e Assopra, de Walcyr Carrasco, às sete horas, usa o mesmo subterfúgio com sucesso. E a novela só cativou o público depois que o autor, esperto, fez do núcleo da mãe rejeitada pelo filho, a trama principal de sua novela. E Dulce, brilhantemente interpretada por Cássia Kiss, está para Griselda assim como Cássia está para Lília Cabral: personagens que só dariam certo se fossem vividas com a verdade que atrizes do calibre de Cássia Kiss e Lília Cabral conseguem passar.

Muito anterior às atuais novelas das sete e das nove - em 1988 -, o Brasil se viu diante de outra mãe batalhadora e simplória que fazia a filha morrer de vergonha: Raquel, vivida por Regina Duarte em Vale Tudo, novela da qual Aguinaldo Silva era co-autor. Mas há uma diferença muito grande entre Raquel e a dupla Dulce e Griselda. O público se compadecia da condição de Raquel, mas torceu o nariz para a personagem, que era tida como uma mulher chata e ridícula. Mesmo depois de ter enriquecido, Raquel não perdeu o ranço cafona e desagradável que a personagem carregava quando era pobre. Raquel não era popular e talvez por isso, sua personagem fosse mais crível e mais real. Aliás, Raquel era tão real que se contradizia: um poço de moralismo, mantinha um caso com um homem casado. Mas esta é outra história.

Vinte e três anos depois, a TV brasileira está muito diferente daquela que se fazia na década de 80. Assim como seu público também é diferente. E os autores sabem disso. A onda do politicamente correto e conservadorismo que tomou conta de nossa TV, vem fazendo os autores optarem por saídas mais fáceis. E Fina Estampa é assim, uma novela palatável para o grande público, fácil de ser digerida. Aguinaldo Silva vai por caminhos que ele conhece muito bem e que são adaptáveis a um público que nada mais quer do que se emocionar na frente da TV, seja com uma história de amor folhetinesca e repleta de clichês, ou com uma mãe sofredora que bate fundo no coração de todos - entrecho não menos repleto de clichês.


O que chama a atenção aqui é que Aguinaldo já foi um autor de histórias mais elaboradas, com tramas centrais fortes e mais criativas. A maioria de suas novelas tinha até uma "primeira fase", em que se explicava o antecedente da história. Fina Estampa não tem nada disso. É uma novela que começou assim, do nada, despertou a curiosidade do público pela figura sui generis de Griselda e cativou a audiência. Ainda esperamos ver algo mais do que o semblante triste no porte masculinizado de Griselda. Quem sabe na virada da história, quando a personagem ficar rica e questionar seus valores.

11 comentários:

  1. Apostar no popular é muito comodo, o apelo por audiência faz os autores se acomodarem no "mais do mesmo". Acho que se faz necessário idéias e pegadas novas, conduções diferentes para tramas e núcleos mais elaborados. Não é crime experimentar, novela é uma obra aberta, se não der certo, que se corrija. O que não pode é ficar no comodismo do "quem matou" ou da "mãe sofredora". Fina Estampa faz bem seu papel da fórmula que se repete.
    Siga-me no Twitter @carlinhosdemelo

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  2. Realmente, das mães, Raquel é a mais real de todas, as tintas não eram tão fortes e portanto, tudo parecia mais verdadeiro. Fina Estampa está apostando na fórmula certa, de apelo popular e contando com boa interpretação da Lília Cabral, mesmo com alguns exageros na caracterização. Na novela das sete, tudo está muito acima do tom, inclusive, na minha opinião, Cássia Kiss. Aquilo tudo não me diz nada. Cássia, excelente atriz, merecia um papel/novela melhor.
    Voltando a Fina Estampa, a novela ainda está no começo. Vamos aguardar pra ver se a coisa melhora. Por enquanto acha fraca, embora agradável de se ver.

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  3. Acho que vcs assistiram novelas demais!rsrs E eu de menos...Achei o site no twitter! Adoro a novela Fina Estampa! Não é pelo clichês… Afinal o que é clichê?! Talvez o que chamam de clichê, eu chamo de arquétipos!Eu to vendo tudo tão bem diferente das ultimas novelas!!Na verdade gosto de como flui fácil e sempre acontece coisas... Qual é problema se identificar com os personagens?! E eles falarem coisas que gostaríamos de dizer.Muitas coisas tão caricatas mesmo.. Mas acho que o carregar nas tintas é para fazer o povo engajar na fantasia... Uma mulher macho e uma perua surtada e logo escolher os lados! Na critica, existe a coisa desta gente que assistiu muita coisa e saturou nos gostos! Sempre vai correlacionar o que vê, com tudo! E igual critico de cinema... Eles sempre dizendo que um filme lembra o filme. Tramas sofisticadas… quem faz novelas assim? Não vão me dizer que FAVORITA!! Pela amooooooooooor!! O povo sacou que era novela de “pegadinhas” pretensiosas e abandonou a trama!! Sabem, o chato e gente achar que tem a mente privilegiada e que o povo não alcança “tramas sofisticadas “…Acredito que o simples e familiar e principalmente conseguir agradar a maioria , é difícil fazer!

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  4. Gabriela, A Favorita foi uma das melhores audiências do horário, assim como foi Senhora do Destino, ambas por suas tramas serem dinâmicas e conseguir prender o telespectador com sua trama. Concordo que sempre terá uma trama parecida com a outra, o problema é você fazer isso sempre. Então todas as novelas do Gilberto Braga vai ter um "quem matou ?" Silvio de Abreu foi na contramão disso em 1995 e lançou nas novelas o "Quem vai morrer ?" em A Próxima Vítima e nem por isso ele passou a usar esse recurso sempre... O povo também tem direito de ver coisas novas, tramas sofisticadas também podem ter linguagem simples. Sou contra a falta de ousadia de se tentar o novo, ou por comodismo ou por pura preguiça

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  5. Na minha opinião, “Fina Estampa” é apenas uma ponta do iceberg no que chamo de “classeCtização” da noss sociedade. Que fique claro, não tenho nenhum preconceito contra a Classe C. Pelo contrário, acho-a a verdadeira síntese do que somos nós, os brasileiros.
    A meu ver, o grande problema é que as emissoras, principalmente a Globo, ainda não sabem como agradar a esse público e aí partem para o caminho mais óbvio, mastigando tudo antes de entregar ao telespectador. Sempre parte-se da premissa que essa parcela da população é burra e não sabe pensar. Então, pensam no lugar deles.
    Vejam os telejornais que se dizem populares por exemplo: só mostram crimes, tragédias, notinhas vazias sobre famosos e futilidades em geral.
    No entretenimento é a mesma coisa. Lembro de uma entrevista do Diretor Geral da Globo, Otávio Florisbal, no lançamento da programação 2011. Ele falou várias sobre entender e falar com essa nova classe C e citou “Fina Estampa” como um esforço da emissora nesse sentido.
    “Fina Estampa” foi milimetricamente calculada para não errar. A trama é maniqueísta ao extremo, chegando a ser “Mexicana” ( o que é essa tal Teresa Cristina, nome composto como nas histórias da Televisa). E tem todos os clichés do gênero batidos em um liquidificador para serem oferecidos ao público.
    É uma formula fácil, mas que para dar certo precisa de uma atriz da envergadura da Lilian como suporte.
    O que me entristece é que a trama é pobre não por incompetência do Aguinaldo, que é sabidamente um mestre do gênero. Talvez seja uma imposição da direção para não arriscar e perder audiência, aliada a uma insegurança do próprio autor.
    Dá audiência? Dá. Mas é ruim olhar para trás e perceber que já tivemos tramas modernas nas décadas de 80 e 90, sendo que hoje temos que nos contentar com coisas requentadas, sem profundidade ou sabor.
    Para mim, é apenas preguiça.
    Basta ver que Cordel Encantado é uma baita ousadia e em um dos horários mais ingratos e ainda assim, ousa, inova e consegue prender a atenção do público. Daqui a 10, 20 anos lembraremos como um marco da TV brasileira.
    Já ”Fina Estampa” e “Morde & Assopra”, que estão no topo da audiência, são apenas mais do mesmo.

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  6. Não acho que vá haver “classeCtização” nas novelas da Globo. Duvido que "A Vida da Gente", "Aquele Beijo" e a próxima do João Emanoel Carneiro vão seguir a linha popularesca em suas tramas. A grande questão é o estilo de cada autor mesmo: Walcyr sempre bebe da fonte que conhecemos e o Aguinaldo já nos mostrou a força da Baixada em "Senhora do Destino" uma favela excomunal em "Duas Caras". E em breve a Glória Perez voltará com sua novela passada no Brasil e em outro país. É tudo questão de estilo, não acham? E por essas e outras que deu para concluir o que o público anda querendo.

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  7. O que sei é que Fina Estampa é um fenomeno e a mídia terá que achar termos gloriosos para qualificá-la. Se audiencia estivesse ruim, estavam falando mal. Como está explodindo... Enfim, Aguinaldo Silva - mais uma vez - entrará para a história. Vejo Fina Estampa como uma novela que fará sucesso em qual época. Parabéns ao mago AGUINALDO, com seus dramas, comédias e barracões. #Amamos

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  8. De boa? Fina Estampa tem um roteiro raso. Não expressa minimamente o papel de uma novela das 21hs, que sempre foi novelão. Insensato pode ter sido uma merda, mas tinha cara de novelão.
    Tramas fortes como troca de bebês, leucemia, criticas politicas, MST, e mesmo as regionalistas, com as caricaturas nordestinas e o realismo fantástico. Tudo tinha cara de coisa grande, com várias tramas interlaçadas.
    Fina Estampa tem aquela carinha de novela das 19. Meia dúzia de personagens, vilã caricata, traminha água com açúcar do filho que rejeita a mãe pra poder namorar a pati rica. Personagens como o da Angela Vieira, perdido no meio da história. Com direito a pensão do Wolf Maia.
    Cadê a polêmica da ciência ou a campanha social de conscientização sobre as drogas de O Clone? Cadê o combate a homofobia de Insensato? Cadê a importância social de falar sobre crianças desaparecidas de uma Explode Coração ou sobre doação de orgãos de Laços de Família?
    É tudo insosso. É apenas uma mulher macho contra uma mulher rica.
    Coisa de 4 ou 5 nucleos, alguns com a importância de nada - o que a Arlete Sales faz ali perdida, mandando carta pro Lata Velha?

    Fina Estampa parece preguiçosa, bobinha, e de boa, ocuparia o horário das 19 horas com a mesma (falta de) competência de um Morde e Assopra.

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  9. A grande verdade é que uma educação pobre e uma orda de neo conservadorismo faz as novelas ficarem muito fracas. Mas texto brilhante que concordo, apesar de achar a novela um erro.

    =)

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  10. O Moura disse tudo.
    Para mim, a grande novela do ano na TV brasileira foi Cordel.
    E olha que ainda estamos em setembro.
    Fina Estampa aí apenas atrás de audiência. Mas qualidade mesmo que é bom, nada.

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