terça-feira, 18 de outubro de 2011

Estreia com Aquele Beijo


Aquele Beijo, a nova novela das sete, estreou com a incumbência de manter o bom desempenho no Ibope da novela antecessora, Morde e Assopra. Ainda é cedo para saber se conseguirá. A história central pareceu despretensiosa, e o primeiro capítulo deixou claro que não será apenas a trama de Claudia, Rubinho, Vicente e Lucena que dominará a novela.

Praticamente todos os núcleos com seus personagens foram apresentados. Poucos ficaram de fora. Talvez tenha sido muita informação para um primeiro capítulo. Mas pelo menos serviu para dar a tônica da novela. Sim, é uma típica trama de Miguel Falabella, com humor inteligente e debochado, visual colorido e personagens carismáticos. São características que deram a Falabella a alcunha de "Almodovar de nossas novelas". 

O autor não abre mão da trupe que o acompanha já há alguns trabalhos. Em Aquele Beijo tem Stella Miranda, Diogo Vilela, Zezeh Barbosa, Jacqueline Laurence, Cláudia Jimenez, Bia Nunnes, Luís Salém, Maria Gladys e outros já vistos mais de uma vez na obra do autor.

Pelo visto, o "politicamente incorreto", tão vigiado nesses nossos tempos, está presente. A personagem de Fernanda Souza é uma mãe e esposa inconformada com a vidinha mais ou menos que leva ao lado do marido idealista. No primeiro capítulo, ela segurava o filho bebê no colo quando pediu um cigarro ao vizinho. Tomara que  apronte muito!

Este primeiro capítulo teve barraco em concurso de miss. Teve ricos querendo expulsar pobres de uma favela, por conta da desapropriação de um terreno. Teve uma loja de luxo (Comprare), tal qual a Luxus de Cobras e Lagartos (2006), de João Emanuel Carneiro. Teve homem vestido de mulher - Ana Girafa, vivida por Luís Salém, o que lembou Dona Roma, de Miguel Magno em outra novela de Falabella: A Lua Me Disse (2005). E teve Victor Pecoraro, da publicidade para protagonista de novela, creditado na abertura como estreante, mas que já havia atuado em novelas anteriormente. Um problema: Pecoraro precisa melhorar a dicção. Quanto à interpretação, é cedo para avaliar.

A homenagem às novelas está presente - em dezembro a telenovela brasileira completa 60 anos. A abertura mostra uma compilação de famosos beijos de nossa teledramaturgia - ainda que desfocados, o que só atrapalhou a boa ideia. As novelas mexicanas também são referenciadas. A personagem de Jacqueline Laurance usa um tapa olho combinando com a roupa - uma alusão à vilã da novela xicana Ambição (Cuna de Lobos) que o SBT apresentou em 1991. E Cláudia Jimenez vive uma vidente de araque que afirma receber um espírito mexicano depois que um acidente vitimou sua mãe enquanto esta assistia a uma novela mexicana. As cenas de Jimenez com Bruno Garcia (seu primo na trama) foram hilárias.

O formato telenovela também é homenageado em outras tramas de Aquele Beijo. Além da luta de classes, com os ricos oprimindo os pobres, há a mulher que se apresenta com outra identidade para obter privilégios (Damiana, de Bia Nunnes) - um clássico do folhetim! E a mulher rica e prepotente (Marília Pêra) que impede o namoro do filho com a filha da empregada da casa (Nívea Maria), que está lá porque sabe de um segredo seu - trama já contada em novelas como Louco Amor (1983), de Gilberto Braga, e Rainha da Sucata (1990), de Silvio de Abreu.

A narração de Falabella não é nenhuma novidade: um rap narrava os acontecimentos ao final de cada capítulo de As Filhas da Mãe (2001), de Silvio de Abreu. Mas com certeza é um charme a mais em Aquele Beijo, já que Falabella, o autor-narrador, empresta sua voz usando frases de efeito bonitas e dentro do contexto da história. E algumas dessas frases já chamaram a atenção no primeiro capítulo, seja na voz de Falabella ou na voz de seus personagens:

"Um grande amor é quase sempre uma troca de perdões. Quem não sabe perdoar, ainda não está pronto para o amor."

"Se você quer saber o que Deus pensa do dinheiro, é só ver a quem ele dá!"

"Do jeito que as coisas estão, eu prefiro enxergar o mundo com um olho só!" (Mirta, a personagem do tapa olho)

Marisol (Mary Sheila) sobre Locanda (Stella Miranda): "Isso não é gente batizada!"
No que Eveva (Maria Gladys) responde: "Batizada ela foi. Mas com enxofre!"

8 comentários:

  1. Sou muito fã das novelas de Falabella, principalmente pelo texto inteligente e hiário. Ainda lembro de uma fala em uma cena com Débora Bloch fazendo uma vilã ricaça em "A Lua me Disse", quando entra na cozinha e repreende os empregados que faziam fofoca: "Batuque na cozinha sinhá não quer!" rsrsrs

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  2. Gostei muito da estreia Nilson! Tomara que siga fazendo sucesso, texto bom e inteligente que nem o do Falabella merece ser valorizado!

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  3. Miguel Falabella tá mais pra Paulo Coelho do que pra Almodovar. Nunca vi gostar tanto de frase enfeitada que não faz sentido nenhum.

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  4. As novelas de Miguel Falabella são, ao mesmo tempo que clássicas, elas vem com um "q" a mais, que é o carismA de suas personagens, muitos bem caricatos! E sem falar nos nomes que ele dá para essas suas personagens, que deixam a trama mais engraçada ainda.O núcleo principal, isolados, seria desinteressante, mas em conjunto com todas essas personagens, fará da novel um grande sucesso. Aparentemente está melhor que NEGÓCIO DA CHINA e A LUA ME DISSE.. Vamos ver se continua no

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  5. Parabéns!
    Belo texto! Admiro a forma como você escreve!

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  6. Análise perfeita de quem entende e conhece teledramaturgia. Concordo com tudo.

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  7. Mestre é mestre!
    Falabella e Nilson!
    Achei o primeiro capítulo bem fraco, como vc mesmo disse despretensioso!
    Mas é cedo para criticas, confio no autor!
    Abs

    Fábio
    www.ocabidefala.com

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  8. Achei o primeiro capítulo muito fraco. Só deu audiência porque choveu bastante no Rio e em São Paulo no dia.

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